Recentemente, a Petrobras anunciou uma redução de cerca de 4,9% no preço da gasolina para as distribuidoras. Em teoria, essa queda deveria se refletir no preço ao consumidor final. No entanto, os dados indicam que essa redução não chegou (ou não plenamente) ao bolso do consumidor e nem no tanque dos postos.
Uma reportagem do Tribuna do Sertão, baseada em dados de outubro de 2025, ilustra perfeitamente esse comportamento.
Um levantamento da plataforma Sem Parar mostrou que, entre setembro e outubro de 2025 em São Paulo, o preço da gasolina comum nos postos subiu de R$ 5,97 para R$ 5,98 (+0,2%) e a gasolina aditivada subiu de R$ 6,47 para R$ 6,50 (+0,4%).
Esses dados revelam um desafio estrutural: ainda que o custo na ponta upstream (refino/produção/distribuição) sofra redução, não há garantia automática e imediata de que essa redução será repassada integralmente ou simultaneamente ao consumidor final ou aos postos de combustíveis. A busca por uma “solução” para o problema dos reajustes esbarra em uma questão complexa: a falta de sincronia entre os repasses anunciados pela Petrobras, o que as distribuidoras recebem, o que os postos recebem das distribuidoras, e o que os postos repassam para suas bombas.
Apesar da reportagem mostrar apenas o problema, não é abordado qual uma possível solução. Esse é um tema muito debatido aqui por nós da VPricing, em diversos artigos abordamos, o não repasse integral das distribuidoras, e esse é um problema que existe há muitos anos, e pouco é discutido. Primeiro vemos que existe um grande problema na divulgação dos reajustes, por parte da mídia, que quando divulga a notícia, ela é repassada de forma parcial, com isso o grande público que não conhece do segmento, acha que quando cai R$ 0,10 no custo da gasolina nas refinarias, ele tem que receber esses R$ 0,10 na bomba, e não é bem assim.
O segundo problema está no segmento de distribuição, que quando é questionado por seus clientes, a principal justificativa é de que “o preço é livre”. De fato o preço no Brasil, desde a criação da Lei do Petróleo, que ocorreu lá no final de 2001. Porém quando falamos de reajustes, essa liberdade é questionável, pois para o reajuste acontecer, ele tem que partir de um princípio econômico, seja um índice, como IPCA, IGPM, por exemplo. No caso dos combustíveis, esse índice são as refinarias e importadores.
E quando analisamos o que aconteceu com a gasolina na Petrobras por exemplo, vemos que ela aplicou uma redução de R$ 0,14/L, supondo que tivéssemos somente Petrobras como fonte de suprimento, e lembrando que os clientes da Petrobras são as distribuidoras, portanto elas recebem 100% desse impacto, já os postos quando compram a gasolina das distribuidoras, compram 70% de gasolina A, pois os outros 30% é a parcela do etanol anidro, portanto o impacto deveria ser proporcional ao que se compra, sendo uma queda de R$ 0,0980/L.
Mas as distribuidoras gostam de utilizar muito de narrativas, como por exemplo que é preciso também levar em consideração a importação. Vamos lá, considerar então.:
No estado de SP, por exemplo, no ano de 2025, houve um fornecimento de gasolina A, considerando todas as fontes de suprimentos, segundo dados da ANP, de 5.497 bilhões de litros. Sendo que desse volume apenas 109 milhões de litros, vieram por tradings, ou seja, de importação, isso dá um mix de 1,98%.

E o que aconteceu com o custo da gasolina importada considerando um período de 1 mês, segundo dados da ANP?

Vemos uma queda, e levando em consideração apenas a última semana, que foi quando Petrobrás reduziu, vemos uma redução de R$ 0,0104/L, com um mix de 1,98%, o impacto praticamente é inexistente.
Continuando então com a narrativa. Outra justificativa é que o etanol subiu nas usinas, por isso a queda também não foi repassada de forma integral. Mas será?

Essa foi a performance do anidro, segundo dados da Esalq, e vejamos que no intervalo onde ocorreu o reajuste da Petrobras, o preço do etanol saltou de R$ 3,1079 para R$ 3,1411, ou seja, uma alta de R$0,0332/L, lembra que lá no início falamos, que os impactos devem ser proporcionais às misturas, então a alta do anidro, deve gerar um impacto de 30%, pois essa é a parcela dele na mistura, ou seja, uma alta de R$0,01/L.
Levando em consideração Petrobras e Anidro, o impacto deveria ser uma queda de R$0,0980/L mais uma alta de R$0,01/L, resultando em uma queda de R$0,0880/L.
E analisando os repasses que vimos, em diversas localidades do país, foi uma queda média de R$0,04/L, situação essa que foi exposta até por alguns sindicatos que representam a classe de postos.
Então onde foi parar o restante?
Entendem onde está o cerne do problema, será que de fato é posto que não repassa a variação para a bomba ou o problema é muito maior do que simplesmente esse?
Esse problema não é simples de se resolver e também a solução não virá do dia para a noite, é algo que passa por uma mudança de cultura, da forma com que se compra combustível, as distribuidoras ofertando contratos sem cláusula de reajuste, pois para ela é muito melhor assim pois, como o “preço é livre” ela se vê na liberdade de ajustar ao seu bel prazer, e do outro lado o cliente como sabe que não existe nada em seu contrato falando sobre como o reajuste deverá ser aplicado e se vê na obrigação de comprar, da distribuidora por força de contrato.
Uma solução que minimizaria muito, é deixar claro a “regra do jogo”, se o seu contrato de aluguel, de financiamento tem um índice para remuneração, por que seu contrato do seu principal insumo não tem?
Porém essa mudança, precisa acontecer principalmente por parte dos representantes do segmento, que precisam entender que o mercado mudou, e que não é possível dar esse cheque em branco para as distribuidoras, e também os órgãos fiscalizadores e reguladores se aprofundar mais nesse problema do mercado, buscando parâmetros, que deixem claro, o que é reajuste de custos, o que reajustes de margem, e claro as distribuidoras precisam ter suas margens, o que é reajuste de frete, e assim sucessivamente.
Como falamos, não é algo simples e pode demorar anos, para acontecer, mas a lição deve começar primeiramente dentro de casa, dentro do seu negócio é possível implementar mudanças na rotina de compras e na gestão desses reajustes, para que no momento de negociar com o fornecedor, você possa ter embasamento técnico, para cobrar o que de fato ocorreu. Nós da VPricing, temos a solução completa, que atende todas essas demandas e te dá subsídios para ter uma melhor negociação. CLIQUE AQUI, faça seu cadastro e agende uma conversa.
Por: Bruno Valêncio • Founder