Nesta última quinta-feira (08/08) foi divulgado o resultado do segundo trimestre de 2024 da maior empresa brasileira, a Petrobras. Para a surpresa do mercado de investimentos, a empresa reportou prejuízo de R$2,6 bilhões no 2T24.
O lucro acumulado no primeiro semestre de 2024 foi de R$21,1 bilhões, enquanto no mesmo período de 2023, o lucro reportado da empresa foi de R$69,9 bilhões, ou seja, 68% de queda.
Segundo a empresa os motivos do prejuízo do 2T24 são justificados por três motivos extraordinário:
- Transação Tributária fruto de um acordo entre Petrobras e União para encerrar pendências tributárias.
- Acordo Trabalhista 2023 acordo trabalhista do ano de 2023 entre Petrobras e o sindicato dos trabalhadores;
- Perdas Cambiais, ou seja, prejuízos por não seguir o PPI.
Aqui precisamos entender o que a empresa quer dizer por “Perdas Cambiais”, veja a seguir:
A Petrobras destacou perdas financeiras de R$ 36,4 bilhões por conta da perda com variação cambial do real frente ao dólar. “O real se desvalorizou 11,2% no segundo trimestre, em comparação à desvalorização de 3,2% no primeiro trimestre (o câmbio final foi de R$5,00 em 31/03/24 para R$ 5,56 em 30/06/24)”, disse a estatal.”
É importante você como leitor entender o jogo de palavras, a Petrobras de forma habilidosa atribui à desvalorização do Real, o prejuízo por não seguir o PPI (Paridade de Preços Internacionais) para precificar os custos dos combustíveis no mercado brasileiro, lembrando que o PPI de forma simplória nada mais é que:
PPI = (Preço do Combustível no Mercado Internacional X Câmbio) + Frete + Custos de Nacionalização.
A tal “Perda Cambial” não afetou as exportações da empresa, pelo contrário, quando o câmbio é mais caro isso melhora os lucros com exportações, e o resultado de vendas e exportação de petróleo subiram 7,4%, refletindo a valorização do barril do petróleo e do câmbio no 2T24.
Entretanto, quando a operação é de importação, o câmbio elevado penaliza os custos do produto importado, e o abrasileiramento dos preços dos combustíveis implementado pelo governo atual, que visa não reajustar os preços no mercado nacional, ficou mais caro que o previsto, já que a Petrobras importa combustíveis também, principalmente o Diesel S10.
Na prática, podemos dizer que importou-se e produziu-se combustíveis por preços mais caros em função do câmbio, mas a venda ocorreu por preço menor do que o custo de importá-lo e produzi-lo.
Quando o câmbio sobe e a Petrobras não reajusta o preços dos combustíveis, ela assume para si tanto o prejuízo da disparidade com o mercado internacional (importação), quanto a elevação do custo de produção do derivado no mercado nacional (produção) seja pelo preço do barril do petróleo quanto pelo dólar, lembrando que o Diesel não é reajustado pela empresa desde Dezembro/23, ou seja, não seguir a volatilidade do câmbio e do petróleo que acontece pelo PPI, sempre será assumir prejuízos.
Resumo da ópera, prejuízo reportado de R$2,6 bi, o primeiro desde o 2T20, enquanto o segmento de distribuição, que são os principais clientes da Petrobras, apresentaram lucros expressivos no mesmo período, como por exemplo a VIBRA Energia, que reportou no 2T24 alta no lucro líquido de 9,9% em relação ao 1T24 e 551,9% em relação ao 2T23.
Agora, é muito estranho, a empresa exploradora e produtora de combustíveis reportar prejuízo bilhionário, enquanto as empresas de distribuição reportam lucros apenas possuindo como função primordial, realizar a logística deste combustível em que elas não produzem?
Obviamente as despesas extraordinárias trabalhistas e tributárias sanadas pela Petrobras prejudicaram o resultado do 2T24, mas é preciso entender que no que tange ao acordo tributário há um viés de necessidade de arrecadação do governo federal sobre esse acordo, ou seja, é claro inferir que a Petrobras mais do que buscou sanar uma pendência tributária, ela foi obrigada pelo governo a celebrar este acordo para auxiliar no cumprimento da meta fiscal que o governo está lutando para cumprir.
A conta do PPI chegou para a Petrobras, e o segmento de distribuição não está absorvendo custos com necessidade de importação, ou seja, se o barril sobe e o dólar sobe, as distribuidoras logicamente estão repassando esse custo referente ao produto importado ao preço dos seus clientes. Portanto, a ideia de “abrasileirar” os preços dos combustíveis mantendo preços artificialmente baixos e sem variações, não deu certo e resultará em consequências dramáticas apenas para a Petrobras, se assim seguir.
Contar com a sorte do petróleo e do câmbio cair, parece ser um risco muito grande, até para uma empresa do tamanho da Petrobras.