Nas últimas semanas temos acompanhado grande pressão nas mídias sobre a Petrobras, quanto à necessidade de reajustar os preços de comercialização dos combustíveis em suas refinarias, sobretudo quando se analisa a disparidade dos preços nacionais em relação aos preços internacionais da gasolina, e o que as refinarias privadas têm praticado.
De fato vemos que a Petrobras tem optado em manter os preços deste combustível muito abaixo da paridade com o mercado internacional:
Vemos também que para o Óleo Diesel, o cenário está mais fácil de se sustentar para a Petrobras:
Em resumo, a gasolina da Petrobras está -23% abaixo da importada, enquanto no diesel a disparidade é de -4,5% abaixo da mesma referência.
Em agosto/23 quando o diesel chegou a ultrapassar defasagem de R$ 1,00/L em relação ao mercado internacional, na mesma semana o reajuste precisou ser aplicado pela Petrobras para evitar desabastecimento, e agora em um cenário parecido para a Gasolina não ocorre nenhum reajuste há mais de 160 dias com uma disparidade que atingi R$ 0,85/L.
Por que a Petrobras não reajusta a gasolina?
A resposta pode ser dividia em dois pontos:
1 – INFRAESTRUTURA PRODUTIVA
Precisamos entender que em termos de refino, o Brasil é capaz de produzir em suas refinarias nacionais toda a gasolina necessária para abastecer a demanda interna, ou seja, no caso deste combustível em específico não temos gargalo de produção, pois de forma basilar as refinarias foram construídas e pensadas para produzir gasolina e diesel em proporções de enxofre maiores de 500 ppm até 1800 ppm.
Já no caso do diesel S10 que é o produto importado pelo Brasil, as refinarias nacionais conseguem refinar o máximo de 80% da demanda nacional, e existem refinarias no norte e nordeste do Brasil que sequer produzem um litro de diesel S10 por questão de infraestrutura, ou seja, elas não possuem capacidade tecnológica para refinar o produto com 10 ppm de enxofre, e sendo assim essas refinarias dependem do diesel importado para atender a demanda em suas localidades.
Portanto, é por isso que o Brasil depende exclusivamente da importação do diesel S10, por mais que tenhamos também importação de gasolina, mas isso ocorre por questões de oportunidade de custos quando viável.
A solução é investir bilhões de reais para modernizar o pátio de refino existente, e construir novas refinarias.
2 – MISTURAS e SUBSTITUTO DIRETO
No Brasil, a gasolina possui um concorrente direto que é o Etanol Hidratado e Anidro produzido pelo setor Sucroalcooleiro. No caso do etanol anidro, ele é misturado em 27% da gasolina comum comercializada, ou seja, em um hipotético caso de problemas de refino de gasolina nas refinarias, o governo pode aumentar a mistura de etanol anidro, ou então, incentivar o consumo do substituto direto da Gasolina Comum que é o Etanol Hidratado, já que 85% da frota de veículos leves é flex.
Resumidamente, para a gasolina há uma solução em termos produtivos que faz o Brasil não depender de importação para se abastecer.
Já no diesel S10 o problema é mais profundo, como já abordado o Brasil não possui capacidade para produzir 100% da demanda deste produto, que a cada ano aumenta seu consumo na média de 4% já que a motorização de novos veículos pesados só pode ser abastecido pelo produto diesel S10, por mais que ainda tenhamos produção do diesel S500.
Outra questão polêmica envolve o biodiesel, já que a motorização dos novos veículos pesados é produzida para funcionar com uma mistura de biodiesel de até 10% para que a vida útil do motor atinja a sua perspectiva. As misturas acima deste percentual trazem problemas severos de manutenção para essas motorização, ou seja, temos muito a evoluir ainda quanto a qualidade do biodiesel, mas sim é um produto que ajuda o Brasil a ser menos dependente de importação, a suprir a falta de capacidade de produção e a preservar o meio ambiente, mas ainda não é um substituto direto como o Etanol Hidratado é para a Gasolina Comum.
Por fim, fica claro e óbvio que a paridade de preços da Petrobras só possui necessidade de ser utilizada para o Diesel S10, porque temos uma demanda maior que a nossa capacidade de oferta, e por este motivo precisamos importar e manter uma relação de custo com o mercado internacional para que essa operação seja viável. Portanto, a gasolina não precisa seguir uma paridade com o mercado internacional, não temos necessidade alguma de importar Gasolina A, e é por isso que a Petrobras não irá se movimentar em termos de reajuste com um cenário de disparidade somente sobre este produto.
Entretanto, se a disparidade do Diesel atingir níveis que inviabilizam a importação, podemos ter falta de produto, a economia brasileira que funciona a base da logística rodoviária pode parar e os efeitos atingirem o PIB do país.
É por isso que a atual pressão de defasagem dos custos da Gasolina A de -23%, não pressionam uma Petrobras que hoje não segue somente indicadores econômicos externos para definir os seus preços de comercialização.
Não esqueçamos que para toda ação há uma consequência, e no caso da Petrobras represar atualizações de preços enquanto a commodity sobe 12% em 2024, podem trazer prejuízos financeiros à empresa.