Na semana passada falamos sobre a possibilidade de novos aumentos nos preços dos combustíveis no início de abril, pois esse era um cenário que já havia sido antecipado pelo segmento de distribuição de combustíveis.
E iniciamos o primeiro dia do mês com alguns impactos significativos em algumas regiões do país, como por exemplo alta de R$ 0,20/L na gasolina e no diesel no estado de MG, R$ impactos entre R$ 0,08 e R$ 0,11 no Rio Grande do Sul, esses são alguns exemplos de alta que recebemos relatos.
E a alegação que veio por parte das distribuidoras, é que o aumento foi por conta da “paridade”, que para o segmento, quer dizer a diferença entre o custo dos produtos no Brasil fornecidos pela Petrobras e o preço do mesmo produto fora do país, ou seja, de forma bem simplista, é o quanto custa adquirir gasolina ou diesel da Petrobras e quanto custa esse mesmo produto fora do país.
Isso não quer dizer, que os produtos serão adquiridos, a paridade nada mais é do que apenas a diferença entre os preços. E utilizar essa justificativa, nada mais é do que as distribuidoras utilizando os repasses para se financiarem com o dinheiro de seus clientes, para talvez comprar o produto que não necessariamente será negociado na diferença atual.
E quando vamos analisar a paridade entre Petrobras e o mercado do Golfo, por exemplo, segundo o nosso modelo de tendência, na gasolina temos o preço da Petrobras 21,82% abaixo do preço da gasolina importada.
E quando analisamos esse número, a primeira impressão que temos, é de que o aumento realmente faz sentido, já que importar está mais caro.
Porém, quando entramos no detalhe, considerando os meses de janeiro e fevereiro de 2024, o país teve um consumo de gasolina C de 6.973 bilhões de litros, segundo dados oficiais da ANP como a gasolina vendida no país tem 27% de etanol anidro em sua mistura, 73% desse volume é gasolina A, ou seja, 5.090 bilhões de litros.
No mesmo período, o Brasil teve uma importação de gasolina A de 375 milhões de litros, o que representa um total de 7,37% gasolina A consumida pelo país. E desse total a Petrobras importou 55,8% e o mercado 44,2%, ou seja, 166 milhões de litros, foram importados pelas distribuidoras e tradings, já que Petrobras não repassa a volatilidade ao mercado, apenas 3,26% da gasolina do país deveria sofrer com o impacto dos custos de importação.
Levando em consideração a paridade atual, que é de R$ 0,78/L, se alguma distribuidora, comprasse a gasolina com essa diferença, os 3,26% do mix dentro do seu estoque, representa um adicional de custo de R$ 0,0254/L. Qual a justificativa para um repasse de R$ 0,20/L, se não for ganho de margem?
Seguindo a mesma lógica para o diesel, hoje nosso modelo de tendência não aponta diferença significativa, podemos até dizer que hoje não existe diferença entre eles.
O que não justificaria um repasse, com esse tipo de justificativa.
Mas vamos entrar nos detalhes.:
Entre os meses de janeiro e fevereiro de 2024, o Brasil teve uma venda de diesel S10 de 6.774 bilhões de litros, segundo dados da ANP.
Entre esses meses, a mistura de biodiesel era de 12%, portanto, a venda de diesel A foi de 5.961 bilhões de litros.
A importação de diesel S10 no mesmo período foi de 1.758 bilhões de litros, o que representa um total de 29,5% do total de diesel S10, consumido pelo país no período. Porém desse total 73,3% foi importado pelas distribuidoras e tradings.
Com essa informação, podemos concluir que a volatilidade do custo do importado no mercado é 21,6% de todo produto que consumimos.
Como falado no início do nosso texto, paridade é apenas a diferença entre o preço do produto no nosso mercado em relação a outro mercado. Quando analisamos o custo efetivo do diesel que entrou no Brasil no porto de Santos, entre os dias 25/03 e 29/03, vemos que ele caiu em relação à semana anterior, segundo dados oficiais da ANP.
A queda foi de R$ 0,0781/L, e como temos um mix de importado de 21,6%, essa queda representa no custo R$ 0,0169/L. E faço a seguinte pergunta, de onde vem a informação, para um repasse de alta de R$ 0,20/L no diesel, como no caso que recebemos?
Sabe aquele ditado popular que diz, “CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS”?
Não existe nenhum fato que corrobora com a justificativa que foi passada pelas distribuidoras, nenhum dado oficial, nenhuma apresentação de números, o que existe é apenas uma narrativa, que ultrapassa o limite da ética, e beira ao abuso do poder econômico.
Por esse motivo, sempre frisamos a importância da informação, de ter dados para análise, de questionar o que é feito, de registrar tudo o que acontece com seu custo de aquisição, pois apesar do preço ser livre, o reajuste aplicado nele tem limites, e ultrapassar esse limite, sem uma justificativa plausível e factível, pode ser sim caracterizado como abuso de poder econômico.