Em recente matéria publicada pela Agência EIXOS LEIA AQUI, foi analisado um relatório publicado pelo Itaú BBA onde é abordado pelo banco que as pequenas distribuidoras do país nos últimos três anos cresceram cerca de 10% no mercado de comercialização de combustíveis do Brasil, tomando espaço das grandes distribuidoras.
Segundo a matéria, o cenário ocorre em todos os combustíveis, sendo que no etanol o ganho é de 6%, diesel de 13% e na gasolina 8%, e que esse ganho ocorre tanto com postos bandeirados quanto em bandeiras brancas.
É abordado na matéria que esse crescimento ocorre por vários fatores, e que um deles seria possivelmente pelo descumprimento de regras e práticas ilegais. É evidente que qualquer descumprimento de regras e práticas legais gera um benefício ilegal de competição entre entes de um segmento, e é por isso que é função do governo fiscalizar mercados para garantir que as regras sejam cumpridas, e os infratores sejam julgados.
Entretanto, gostaríamos de abordar alguns tópicos de cunho comercial que em nossa opinião, podem também ajudar a entender porque o mercado está passando por esse tipo de reconfiguração.
1 – Desproporção entre Empresas
A disparidade financeira e estrutural entre as distribuidoras do país pode ser considerada abissal, enquanto temos grandes distribuidoras listadas em bolsa buscando recursos de investidores, muitas outras são pequenas e de atuação regional que dependem por vezes do recebível do dia-a-dia para conseguirem operar.
Naturalmente uma empresa pequena possui um custo menor de operação que sim pode ser proporcional ao seu tamanho, mas isso sempre vem acompanhado de uma visão mais “humilde” em termos de retorno e resultados, de forma que em questões como prática de custos de combustível importado, essa empresa menor é mais pró ativa em repassar isso ao mercado se tornando mais competitiva.
2 – Percepção do Revendedor
Quando analisamos os resultados financeiros publicados em bolsa pelas grandes distribuidoras, vemos que nos últimos três anos a Margem Ebitda cresceu em média +30%.
Naturalmente a grande maioria dos revendedores não conseguiram ao longo dos últimos três performar em margem em seus postos o mesmo nível de remuneração, e inclusive por questões de contratos mal negociados, sem premissas de reajustes e de composição de preços. Dentro deste cenário, muitos destes revendedores têm optado em migrar para o status de Posto Bandeira Branca, abrindo mão de operar sobre uma marca conhecida.
De 2018 a 2023, conforme dados da ANP, o crescimento dos postos Bandeiras Brancas do Brasil foi de 16%.
Em resumo, presume-se que operar sobre uma marca nos dias de hoje no mercado de combustíveis é muito caro, e esse preço é cobrado no custo de aquisição do combustível de forma exclusiva com as distribuidoras.
Sendo Bandeira Branca, esse revendedor pode negociar e adquirir combustível de qualquer distribuidora que esteja com condições comerciais competitivas e adequadas para o seu posto.
3 – Percepção do Consumidor Final
Conforme dados da ANP, pouco mais de 46% dos postos de combustíveis do Brasil são Bandeiras Brancas, e você como consumidor final já deve ter percebido a diferença de preços dos combustíveis entre um Posto Bandeirado em relação ao Bandeira Branca.
Isso ocorre simplesmente por que a relação de margem na aquisição de combustível com a distribuidora por um posto Bandeira Branca é menor, não há exclusividade contratual, e este posto pode comprar de qualquer distribuidora em que ele possua relação comercial.
Entretanto, um Posto Bandeirado possui uma obrigação contratual de exclusividade de aquisição de combustível, muitas vezes não negocia de forma correta os preços de aquisição do combustível na entrada do contrato, não negocia regras de parametrização de reajustes destes produtos, adquiri financiamentos ou bonificações antecipadas junto à distribuidora que serão naturalmente cobrados sobre o preço de compra do combustível.
Portanto, a diferença do preço entre estes tipos de postos é totalmente fundamentada em questões comerciais, não há diferença de produto entre distribuidoras, até porque quem produz combustível são as refinarias, usinas e formuladoras, e a distribuição é na essência o braço logístico desta cadeia.
O consumidor final que já vive sobre uma situação econômica bem debilitada do país, está também optando em confiar não na marca do posto, mas sim em um tipo de relacionamento interpessoal com o proprietário do posto, para que assim ele tenha confiança de abastecer seu veículo por custo mais barato, mesmo em um posto sem marca.
Por fim, esse cenário econômico do mercado de combustíveis pode também ser caracterizado como COMPETIÇÃO, ninguém aqui defende fraudes, mas sabemos que dentre os Bandeiras Brancas existem redes consolidadas destes tipos de postos que cumprem a rigor com suas obrigações, e ajudam o segmento a ter o que mais queremos no Brasil que é competitividade, qualidade e preços atrativos para o consumidor final.
Por: Bruno Valêncio • Founder