Em meados de maio/23, tivemos o anúncio por parte da nova diretoria da Petrobras referente a mudança na política de preços da empresa, que deixou de acompanhar somente o PPI e passou a utilizar outras métricas para aplicações de seus reajustes dos combustíveis no mercado interno.
Olhando o cenário para quem abastece o carro, é vantajoso, pois não há mais aquela volatilidade que quando o dólar sobe e o petróleo sobe, o preço nas refinarias sobem também.
Porém a cadeia de combustíveis é muito mais complexa e não é somente ir ao posto e abastecer o veículo, existe todo um ecossistema como importadores, distribuidoras, tradings, armazenadores, refinadores privados, que abastecem o nosso mercado até o produto chegar aos postos.
E uma mudança dessa magnitude, principalmente do principal player do mercado que tem como principal acionista o governo federal, pode trazer consequências muito maiores. Estamos vendo notícias recentes, de associações que representam os importadores e refinarias privadas indo ao órgão antitruste, contra as mudanças na política de preços nos derivados e também em relação ao petróleo comercializado pela Petrobras.
E o que está por traz desse movimento?
Quando olhamos para o lado de suprimentos, uma empresa que detém a grande maioria do mercado de refino e deixa de acompanhar os indicadores, que são utilizados na grande maioria dos países, como o preço do barril e do dólar, por se tratar de uma commodity, isso pode trazer consequências como as que estamos vendo nesses últimos dias.
Como já é sabido, temos uma dependência importante de produtos importados especialmente o diesel, pois não somos autossuficientes em diesel S10 principalmente nas regiões Norte e Nordeste, e estamos recebendo relatos de restrições de carregamentos pelos postos, pois quando Petrobras está com seu preço bem abaixo do mercado internacional fecha-se a janela de importação, e comprar o produto lá fora principalmente para a grande maioria das distribuidoras e importadoras acaba se tornando inviável. Quando assim o fazem isso acaba se refletindo no preço, pois não irão comercializar produto com prejuízo, ou seja, a Petrobras não repassa o preço no mercado, mas ele sobe, pois estou pagando mais caro lá fora para suprir minha demanda.
Ahhhh mas e o diesel Russo?
O diesel Russo nada mais é do que um custo de oportunidade momentâneo, que algumas poucas empresas estão importando, e claro, irão se beneficiar financeiramente.
Então veja que uma mudança como essa, impacta o mercado como um todo, e as refinarias privadas estão seguindo com seus repasses de acordo com o PPI, tanto que essa semana vimos alta nos preços por parte de Acelen e 3RPetroleum, pois seus preços estavam bem abaixo do mercado internacional, e esse movimento está ligado ao movimento do barril, que somente em julho já subiu mais de 8% em sua cotação.
E os últimos movimentos que vimos por parte da Petrobras, estava muito mais relacionado a algum evento político do que um reajuste técnico, pois as baixas que tivemos na gasolina, ocorreram próximos ao retorno dos impostos.
Vamos acompanhar ao longo do tempo qual será o efeito dessa mudança, pois em uma janela pequena, já estamos vendo alguns cenários não tão animadores.
Por: Murilo Genari Barco | Diretor Comercial